A banda goianiense Rising Cross está na ativa desde o ano 2000. Sofreu várias mudanças na sua formação, quase chegou a mudar de estilo e, após vencer todas as dificuldades que encontrou, conseguiu lançar o EP Trumpets Of Victory de forma independente no início deste ano através da página da banda no Myspace, recebendo muitos elogios desde então, tanto pela qualidade da produção quanto pela qualidade das músicas. Conversei com o vocalista Paulo Melo e com o tecladista Divino Lima sobre estes e outros assuntos. Confira a entrevista abaixo:
1 - Foram mais de dois anos compondo, ensaiando e produzindo as músicas que estão no novo EP. A bateria foi gravada em estúdio pelo baixista Clério e os solos de guitarra pelo produtor Geovani Maia. O que vocês acharam do resultado final do EP?
Paulo Melo - Realmente trabalhamos um bom tempo para finalização não só deste EP, mas também das músicas que irão compor nosso álbum debut (ao todo serão 12 faixas). Tivemos alguns contratempos que contribuíram para a demora mas, graças a Deus, no f
inal das contas tivemos, ao meu ver, um ótimo resultado. O Clério tem um papel muito importante na banda e não foi diferente nas gravações. Digamos que o Clério seja um coringa na banda. Lava, enxuga e passa (risos). A gravação da bateria foi uma decisão um tanto quanto natural, visto que ele já tocava bateria e sabia exatamente o que queríamos. A produção do EP e a gravação da maioria dos solos ficou a cargo Geovani Maia, que por sinal está fazendo um excelente trabalho, que recriou e gravou os solos da Pentecost e Revelation XII. O solo da Victory foi ainda gravado por nosso antigo guitarrista, Thiago Garcia. Então, mesmo com os contratempos, que não foram poucos, sendo nossa primeira gravação, alcançamos um resultado acima de nossas expectativas e, graças a Deus, estamos tendo um ótimo retorno, tanto da crítica especializada como também dos fãs, amigos e pessoas mais próximas. Eu, como sou um pouco perfeccionista, sempre acho coisas a melhorar, principalmente em mim mesmo (risos)... Mas isso faz parte do processo de evolução. Então, podem esperar mudanças nas músicas que estão no EP quando forem para o álbum.
Divino Lima - Bom, gostamos do resultado, visto que as pessoas que ouviram nos deram respostas muito positivas, e isso nos faz crer que realmente o trabalho surtiu o efeito esperado, mesmo que nós após ouvirmos milhares de vezes percebemos que algumas mudanças podem ser feitas e que as mesmas vão enriquecer algo que já está bom.
2 - Neste período a banda passou por diversas mudanças na formação com a saída de alguns membros originais e a troca de outros, incluindo vocalista, guitarrista e baterista. Quais foram os pontos positivos e negativos destas mudanças?
Paulo Melo - Bom, durante as gravações, a única mudança que tivemos foi de guitarrista. Logo que Thiago Garcia saiu, iniciamos testes com guitarristas o que, dependendo das circunstâncias, não é uma coisa muito rápida - como não foi. Então, neste meio tempo, o produtor Geovani Maia, que é também um ótimo guitarrista, se ofereceu para finalizar as gravações do álbum. E assim foi feito. Em momentos anteriores, houveram outras mudanças também, inclusive com a minha saída e depois retorno a banda. Manter uma banda com formação original é muito complicado pois, vários são as diferenças e os fatores complicadores que aparecem para dificultar essa permanência e, dentre eles, podemos citar o ideológicos, prioridades e o financeiro. Sabemos que viver as custas de uma banda de Heavy Metal aqui no Brasil para a maioria das bandas é uma coisa utópica e isso se torna mais agravante para as bandas cristãs. Deve haver um amor e uma determinação muito grande para que a pessoa não "desencante". Os pontos positivos de se mudar de integrante é que sangue novo e gás novo sempre é revigorante. Também, novas idéias sempre são bem vindas, a medida que não destoem do objetivo principal. Os negativos são aqueles já bem conhecidos por todos - pelo menos os que tem banda - como, desentrosamento, características diferentes, influências diferentes etc. O que, na maioria das vezes, influencia diretamente a sonoridade da banda.
Divino Lima - O próprio nome já diz tudo, "mudança", pois cada integrante que passou na banda deixou sua contribuição, à respeito da mudança com o vocalista, o Paulo Melo apenas retornou ao seu posto de origem, foi substituído na época pelo vocalista João Maurício, que tinha uma pegada bem mais agressiva, o que nos tinha feito até em pensar de mudar o estilo da banda, mas com o retorno do Paulo Melo, a banda continuou com o seu estilo.
3 - A banda possui influências de Iron Maiden, Manowar, Iced Earth, Judas Priest e outros nomes do Heavy Tradicional e do Power-Melodic Metal. Porém as músicas tem andamento mais lento que o normal para esses estilos, chegando em certos momentos a soar como bandas de Doom Metal. A mistura no entanto ficou muito boa! Como vocês classificariam o estilo da banda?
Paulo Melo - Cara, está aí uma pergunta complicada de responder. O que a banda toca hoje é fruto do que ouvimos há muito tempo. Eu por exemplo, já escuto Heavy Metal e seus sub-gêneros, se é que se pode dizer assim, desde minha infância e, neste período todo, já escutei vários dos sub-gêneros do rock e metal. E, assim como eu, todos na banda trazem a sua carga de influências. E esse lado mais extremo é provável que venha de mim e do Divino, mais ainda do Divino. Então, consciente ou inconscientemente acabamos criando músicas assim. A linha de composição básica da banda costuma ser o Heavy Tradicional porém, com flertes bastante fortes nos outros sub-gêneros que vão desde o Hard Rock ao Metal Extremo. Costumo dizer as pessoas o seguinte: imagine que estes sub-gêneros são linhas retas paralelas bem próximas. O som da Rising Cross é uma onda que navega entre estas linhas (sub-gêneros) com ênfase na linha Heavy Tradicional. Mas que, de vez em quando, se prolonga um pouco mais pra sair de uma outra linha que, por exemplo, pode ser a do Doom, do Hard Rock, do Metal Melódico etc. Estilos estes que já ouvimos bastante também. Existe uma música nossa, a The Great Chaos (não está no EP), que o Doom nela é bastante presente. Assim que criamos ela, apelidamos a mesma de "Doomzona". É bem sombria, mas não é "do mau" não (risos).
Divino Lima - Procuramos seguir a linha do Heavy Metal Tradicional mas, como já foi dito, a banda possui influências que vão desde o Hard Rock até o Metal Extremo, esse andamento mais lento em minha opinião ocorre devido a banda primar pelo peso, o estilo "sabbático" de fazer som é algo que agrada a todos no grupo, e não é algo muito comum encontrar bandas com essa forma de som que fazemos, não só apenas em nossa cidade, mas em outras reigiões também, o que deixa a nossa sonoridade com uma característica bem peculiar.
4 - A banda também está envolvida de alguma forma com o meio cristão. Vocês pretendem usar a banda como meio de divulgar a fé de vocês através das letras ou acham que Metal e religião não devem se misturar?
Paulo Melo - A Rising Cross é uma banda Cristã Católica de Heavy Metal e nasceu com o intuito de levar uma mensagem cristã às pessoas através do Heavy Metal. Ou seja, nosso propósito é mostrar que podemos viver de uma forma mais saudável tanto espiritualmente quanto fisicamente sem deixar de sermos Headbangers. Não procuramos fazer distinções entre as pessoas, até mesmo as que não concordam, e mesmo com as diferenças, procuramos sempre viver em harmonia com todos em nossa volta. Em nossas letras, além de passarmos aquilo que acreditamos e aprendemos, procuramos deixar uma mensagem de otimismo e também transcrevemos algumas passagens bíblicas que, ao nosso ver, tem tudo haver com o Heavy Metal. Por exemplo, a música Revelation XII é baseada no capítulo 12 do livro do Apocalipse, que é bem conhecido por existirem passagens mais épicas. Também existem vários outros livros e/ou passagens bíblicas que são fantásticas para serem narradas ao som do Heavy Metal. Podem questionar se isso não acaba sendo mais uma "historinha" contada porém, muitas pessoas ao ouvirem as músicas, vão provavelmente estar tendo o primeiro contato com aquilo e acabam tendo uma visão melhor da coisa - tanto da mensagem bíblica quanto da música - o Heavy Metal - pela forma apresentada e podem, consequentemente, se interessar mais. Não vejo problemas em misturar Heavy Metal com religião e também não acho que o Heavy Metal é "coisa do capeta", como muitos dizem. Deus nos dá o dons e juntamente com eles nos dá também o livre arbítrio, que pode ser usado conforme nosso entendimento. Cabe ao homem usá-los conforme fala seu coração. Infelizmente muitos acabam usando de uma forma não muito sadia. Não quero dizer que quem usa o Heavy Metal para dizer coisas que não são relacionadas a religião ou Deus são "pessoas do mau" porém, quero dizer que com essa arma poderosa - a música, o Heavy Metal - podemos ajudar muitas vidas a mudarem para melhor, inclusive a nossa. Contudo, temos que ter ciência que muitos usam também para destruir.
Divino Lima - Sim, nós estamos e muito envolvidos com o meio cristão, por todos os lados que passamos gostamos de deixar claro que somos uma banda Cristã Católica, nós nascemos justamente para isso, divulgar a nossa fé e passar uma mensagem mais positiva para o mundo, e o lance de música e religião é algo que cremos com muita força, e outra, desde que o homem começou a crer em Deus ele toca algum instrumento como forma de louvor ao Criador, seja pra agradecer ou pedir, o estilo do Heavy Metal é como todos os outros, cada um louva a Deus na condição em que Ele chamou, e como nós temos metal no sangue, é algo que fazemos com muito amor.
5 - A banda nasceu numa cidade que tem como tradição o Thrash e o Death Metal e letras politizadas. Vocês temem serem boicotados por fãs de outros estilos de Metal que não tem nada a ver com o lado religioso de vocês? Como vocês lidam com o preconceito em relação as bandas de White Metal?
Paulo Melo - Realmente na cidade de Goiânia existem predominantemente bandas de estilos mais extremos, como Thrash e o Death Metal e crescemos nesse ambiente porém, não temos receio de sermos boicotados ou discriminados pela nossa postura e/ou opinião. O que temos conosco é que "agradar a grego e troianos" é uma coisa complicada e, mesmo rolando esse tipo de situação, não nos sentimos injustiçados ou coisa do gênero. Acredito que todos tem seu espaço e, mesmo sendo fora da sua terra natal, se o trabalho for bem feito, ele vai ser reconhecido. Aqui em Goiânia, já tocamos em shows o tanto quanto inusitados pra nós, como a abertura do show do Andralls que, no final das contas, todos sobreviveram (risos)... Então, se rola o preconceito, não vai ser ele que vai nos fazer parar ou repensar nossa postura ou pensamento. Temos que ter personalidade! E, com certeza, sempre respeitar as diferenças.
Divino Lima - Já passamos por situações meio complicadas, mas não foi nada pra assustar e nos fazer mudar de idéia, é algo que já esperava acontecer, mas isso já faz tempo também, hoje já vejo que os Headbangers que não seguem essa linha de pensamento que nós seguimos nos respeitam, isso é fruto da amizade que nós temos com todos, sempre tentando dialogar sem criticar ou ofender a opinião do outro, respeitando o espaço de cada um, sempre vou aos shows que acontecem aqui em Goiânia, e é rara a banda que eu não conheça pelo menos um integrante, e todos vem falar comigo, falando do nosso trabalho com a Rising Cross, dizendo que gostou e está muito bom, e muitas vezes eles também estão gravando e me mostram trechos das gravações e pedem opiniões pra também fazer o melhor possível por sua banda, aqui em Goiânia está com bandas muito boas, e graças a Deus nos respeitam muito.
6 - A banda completou sua formação recentemente com um novo guitarrista e um baterista. Qual a contribuição deles na parte criativa das músicas? Foi necessário haver um período de adaptação entre eles e a banda?
Paulo Melo - O Fellipe (bateria) e o Alfredo (guitarra) trouxeram muitas coisas novas e boas para a banda. Na verdade, esse período de adaptação ainda está ocorrendo pois, eles entraram na banda a pouco tempo e até então estávamos nos relacionando mais "socialmente" falando. Indo a igreja, nas reuniões e etc. Mas, mesmo neste convívio extra - estúdio, já vimos que os mesmos tinham muito a acrescentar a banda, tanto como pessoas quanto musicalmente falando. O Fellipe mesmo sendo o mais novo da banda, já tem um certo tempo de experiência, o que faz com que ele tenha segurança no que está fazendo e tenha facilidade para se adaptar. O Alfredo já é mais experiente e, mesmo tendo ficado um bom tempo sem tocar, por problemas pessoais, é outro que passa uma segurança grande pra nós, tornando as coisas muito mais fáceis. Ambos são muito dedicados e estou muito satisfeito por tê-los na banda. Mas, até chegarmos aos dois não foi fácil visto que, achar pessoas experientes dispostas a encarar uma missão como essa, é procurar e achar agulha no palheiro.
Divino Lima - Eles entraram mediante testes, então foi algo que tivemos muito critério para escolher, pois não é apenas a parte musical que interessa, o integrante da Rising Cross tem que ter em mente que vai estar em uma missão, o guitarrista Alfredo Egito e o baterista Fellipe Roso tem os mesmos ideais que nós temos, a adaptação deles está sendo a melhor possível, são caras que procuram as coisas, vestiram mesmo a camisa e pelo que estão mostrando tem um futuro legal pela frente, na parte criativa das músicas, eles já pegaram o barco já em alto mar (risos), e nesse trabalho que estamos lançando em breve não tem a participação deles nas composições, mas nos ensaios já vemos eles colocando suas pegadas e influências que futuramente vão agregar coisas muito boas para a banda.
7 - Como será a distribuição do material de vocês? Existe algum contrato em vista?
Paulo Melo - Atualmente estamos com o EP "Trumpets of Victory" disponível para download no MySpace da banda e no site também e, por enquanto, a maior divulgação está sendo feita na internet, através do MySpace, Orkut etc. Porém, por necessidade nossa e também por solicitação de muitas pessoas, também estamos confeccionando os CD's e pretendemos vendê-los à um preço bem acessível. Ainda não divulgamos pois, estamos fazendo com nossos próprios recursos e procurando baixar os custos o máximo possível - procurando manter a qualidade, é claro. Para viabilizar a venda. Por enquanto, não existe nada de efetivo fechado e vamos começar a enviar o material para os selos quando o mesmo estiver pronto. É provável que nos próximos dias estejamos com o material em mãos e, aí sim, esperamos mais propostas. Mais resenhas e entrevistas também surgirão, visto que alguns exigem o material impresso para tal.
Divino Lima - O EP "Trumpets of Victory" foi lançado primeiramente para download, mas as pessoas chegavam até nós e pediam o trabalho prensado, coisa rara nos dias de hoje, então vamos prensar alguns exemplares para atender essa procura, e com o download visamos também os contatos com alguma distribuidora para lançar nosso álbum debut.
8 - Quais são os planos para o futuro?
Paulo Melo - Olha, atualmente estamos ensaiando para voltar aos shows pois, graças a Deus, propostas não estão faltando. Também estamos a procura de mais um guitarrista para compor o line-up. Aos interessados, favor enviar e-mail para contatos@risingcross.com. Esperamos também num futuro próximo, lançar nosso álbum de estréia por algum selo e gravar o próximo álbum da banda pois, idéias estão borbulhando e logo teremos material (mais) novo (ainda)(risos). Também, na medida do possível, queremos tocar no máximo de lugares possíveis, fora ou dentro de nossa terra natal, pois, sem as apresentações nosso trabalho fica pela metade, incompleto.
Divino Lima - É continuar trabalhando para fortalecer o nome da Rising Cross, tanto no cenário cristão como no secular também, pretendemos lançar o CD ano que vem, por isso estamos batalhando pra conseguir a distribuidora, ainda estamos atrás de mais um guitarrista pra compor a banda da forma que ela se originou, cremos que com humildade e trabalho teremos êxito no nosso trabalho, visto que a aceitação do público está sendo a melhor possível com o lançamento do EP.
Mais informações sobre a banda no seguinte endereço: