Saiba Mais Sobre: O que é MIDI? (parte 2)

Saiba Mais Sobre: O que é MIDI? (parte 2)


Dando sequência à primeira parte do artigo sobre MIDI, esta segunda parte aprofunda mais na parte técnica, mostrando como é o processo de criação de um arquivo *.mid e as ferramentas mais utilizadas neste processo. Este texto é baseado num artigo do mestre do home studio, Sérgio Izeckson.


ELES NÃO SABEM O QUE É MIDI

por *Sérgio Izeckson


A popularidade dos arquivos MIDI que circulam na internet com versões de músicas famosas, tocados em placas de multimídia de baixa qualidade, ainda mais populares que os arquivos, leva vários produtores iniciantes ao perigoso equívoco de subestimar ou até desprezar uma das mais importantes ferramentas do estúdio.

Uma das faces mais visíveis da revolução tecnológica por que passa o mundo do áudio e da música são as placas de multimídia, como o padrão SoundBlaster. Acessíveis, essas plaquinhas desempenham diversas funções: funcionam como entradas e saídas de som, têm uma conexão de joystick para jogos, uma conexão MIDI de entrada e de saída para teclados, amplificam o CD-Audio tocado no drive de CD-ROM e ainda tocam arquivos MIDI num sintetizador FM embutido. Contudo, devido ao baixo custo das placas de multimídia, os conversores A/D (analógico/digital) e D/A (digital/analógico) não são exatamente os melhores do mercado. Respectivamente na entrada e na saída de áudio das placas, esses conversores são os responsáveis pela qualidade do som que entra e sai do computador. Da mesma forma, e até em especial, os sintetizadores das placas de multimídia não são o que há de melhor por aí.


Um dos passatempos da garotada na internet é baixar e trocar arquivos MIDI (.mid) com músicas conhecidas seqüenciadas. São arquivos leves, rápidos de baixar, e existem aos milhões, com todo tipo de música, covers de sucessos seqüenciados por músicos do mundo todo. Como a qualidade sonora dessas placas deixa a desejar, especialmente dos seus sintetizadores, ela causa nos leigos a impressão de que os arquivos MIDI é que são ruins.

Sabemos que o protocolo MIDI é, na verdade, uma ferramenta usada pelos músicos para editar sua execução dos instrumentos eletrônicos e organizar arranjos musicais com diversas partes tocadas nesses instrumentos. Em resumo, uma ferramenta de composição, arranjo e produção musical. Tem outras utilidades, como a edição de partituras e a sincronização de gravadores e mesas automáticas, mas o seqüenciamento dos arranjos é a sua função mais abrangente. Sem realmente gravar o som dos instrumentos, o seqüenciador MIDI registra tudo o que o músico toca e depois é o próprio seqüenciador que “toca” os instrumentos. O seqüenciador pode então executar a mesma música ou seqüência MIDI em qualquer outro instrumento MIDI. Neste caso, o som que ouvimos é o do novo instrumento, já que o seqüenciador não registrou o timbre, por assim dizer, mas as notas tocadas.

Se a música seqüenciada for executada no sintetizador de uma SoundBlaster, terá o som de uma SoundBlaster. A mesma seqüência MIDI executada num sampler ou sintetizador de primeira linha terá uma qualidade sonora muitas vezes superior.

Todo músico experiente sabe que o problema não está na tecnologia MIDI. A qualidade do som é do gerador de som, do sintetizador utilizado. Se usarmos um sampler Akai S6000, E-Mu Emulator 4 ou Yamaha A5000 ou mesmo sintetizadores como Korg Triton, Roland XV-5080 ou Fantom ou o Yamaha Motif ouviremos os melhores sons que a tecnologia poderia nos proporcionar. Mas, com uma placa de multimídia dessas bem baratinhas ou on board, é até natural que a qualidade dos sons gerados por seus mini-sintetizadores embutidos seja sofrível.

Com a popularidade dos arquivos MIDI na internet, alguns até muito bem feitinhos e outros de gosto duvidoso, geralmente ouvidos através de placas de multimídia, muitos jovens músicos se iniciam nas artes da produção musical com um conceito totalmente equivocado. Põem a culpa da má qualidade na tecnologia MIDI, descartando o seu uso no estúdio e perdendo a chance de usar uma utilíssima ferramenta que, muitas vezes, responde por mais de cinqüenta por cento dos recursos usados numa gravação.

Sem o uso do protocolo MIDI, seu estúdio vai ficar na mão quando o cliente encomendar aquele arranjo de cordas, não uma “cama” qualquer, mas uma orquestração mais elaborada, ou um estilo ou uma sonoridade de bateria que o seu baterista não tem. É claro que sempre podemos gravar direto o áudio dos teclados, mas com esta atitude nos privamos de editar todo o aspecto musical deste registro.

Se seqüenciarmos os teclados antes de gravar, temos a chance de fazer as duas edições - o processamento musical e o processamento do áudio. Primeiro, tocamos um instrumento controlador MIDI como o teclado e registramos esta execução como uma pista MIDI no seqüenciador. Em seguida, eliminamos as notas “esbarradas”, aquelas tocadas por engano, tornamos os toques ritmicamente mais precisos com a quantização e ajustamos diversos outros aspectos da performance musical, inclusive mudanças de andamento, tonalidade, dinâmica, duração e timbre sem prejudicar a qualidade dos sons. Depois, gravamos uma outra pista com o áudio desse instrumento. O seqüenciador toca a pista MIDI do sintetizador e grava uma pista de áudio com o som desse mesmo instrumento, mandando comandos MIDI pela interface MIDI do computador para “tocar” o sintetizador e recebendo o som que sai do sintetizador e entra no computador pela interface de áudio. Finalmente, descartamos a pista MIDI e editamos a pista com o áudio, com direito ao uso de todos os plug-ins para limpeza de ruídos, compressão dinâmica, equalização dos timbres e adição de efeitos. As pistas dos instrumentos eletrônicos agora estão impecáveis, prontas para serem mixadas com as vozes e os instrumentos acústicos e elétricos.

Bem tocadas e bem editadas, as pistas MIDI soam autênticas e naturais, lado a lado com os instrumentos gravados e as vozes.

Na música eletrônica, muitos sons e ritmos são gerados inicialmente a partir de instrumentos MIDI, as matrizes sampleadas de grande parte dos loops de audio seqüenciados em programas como o Acid, o Fruity Loops e o Sonar.

A base da música eletrônica é o sampler e o sampler é um instrumento MIDI por excelência. O seqüenciador registra e organiza tudo o que tocamos nos samplers e nos sintetizadores. Os sons e loops para samplers oferecidos nos CDs de áudio ou de dados pelas fábricas de sons como a Big Fish Audio, a Bigga Giggas, a East West, a Groove Doctors, a Ilio, a Pro-Rec, a Q Up, a Sampleheads, a Spectrasonics e muitas outras, incluindo os fabricantes dos próprios samplers, são da mais alta qualidade, de nível internacional. São usados pelos produtores musicais das grandes gravadoras para artistas e grupos de todos os gêneros, como também pelos criadores de música para cinema, TV, multimídia, compositores eruditos e produtores de todas as formas de música eletrônica.

Os componentes fundamentais do estúdio MIDI são três: o controlador, o seqüenciador e o gerador de som. O controlador é o teclado ou a guitarra MIDI que o músico efetivamente toca. Podemos adicionar as notas até com o mouse e o teclado do computador, mas também temos violinos MIDI da Zeta, saxofones MIDI da Yamaha e captadores/conversores MIDI da Roland para a sua guitarra. Cada músico usa os controladores mais adequados à sua técnica instrumental.

O seqüenciador é o “gravador” das informações MIDI. Ele registra o que é tocado, edita e executa o material no gerador de som. Podemos usar os seqüenciadores físicos, as groove boxes e as baterias eletrônicas. Os programas de computador são mais confortáveis e completos e menos portáteis. O Cakewalk Sonar, o Steinberg Cubase, o Logic e o Digital Performer são os mais usados.

O gerador de som é o sintetizador ou o sampler. É o próprio som do sistema MIDI. Além de todos os modelos já citados, em forma de teclados ou racks, contamos hoje em dia com excelentes programas sintetizadores e samplers virtuais. Com uma placa de som de qualidade, dispomos do GigaSampler ou do GigaStudio da Tascam/Nemesys e de inúmeros sintetizadores que, efetivamente, transformam nossos computadores em estúdios completos.

O estúdio MIDI pode, ainda, ser todo concentrado num teclado do tipo workstation. Essas estações de trabalho agregam teclado, seqüenciador e sintetizador/sampler/bateria numa única peça de hardware. O Roland XP-80, o Korg Triton e o Kurzweil K2600 são exemplos desses teclados três-em-um.

Um programa que traz este conceito de workstation MIDI para o computador, contendo seqüenciador, sintetizadores, samplers e baterias, além dos efeitos, mas sem perder o conceito do hardware, com conexões de cabos e toda a cultura dos racks de teclados e mesas de som é o Reason, da Propellerheads. É um programa que leva, definitivamente, o estúdio MIDI para dentro do computador.

E ainda tem quem pense que MIDI é brinquedo. Não é brinquedo, não!


*Professor-coordenador do Home Studio desde 1994; compositor, arranjador, produtor musical nas áreas fonográfica, publicitária, de multimídia, teatro, rádio, TV e vídeo; consultor de áudio, MIDI e home studio; baixista, violonista e tecladista.

Licenciado em música pela UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) em 1993, onde lecionou, nos dois anos seguintes, no pioneiro curso de extensão universitária em Home Studio. Cursou também pedagogia na UFRJ e composição na UNIRIO. Estudou improvisação com Hélio Sena, harmonia e piano com Antonio Guerreiro, violão com Ricardo Ventura, percepção musical com Helder Parente, arranjo com Roberto Gnattali, sintetizadores com Alexandre Frias. Ensina música desde 1975.


Fonte: homestudio.com.br

http://homestudio.com.br/Artigos/Art074.htm

Próxima postagem (parte 3) : Propellerhead Reason - o maior software de MIDI da atualidade.

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