por André Wilker*
Antes de tudo, vamos esclarecer o que eu entendo por guitarra “dropada”: ao se afinar a guitarra, violão, baixo ou qualquer outro instrumento da família das cordas que guardam similaridades com os citados, você pode seguir o padrão “standard” que é a afinação clássica baseada no ciclo das quintas; no caso da guitarra, contando-se de baixo pra cima:E(Mi),B(Si),G(Sol),D(Ré),A(Lá),E(Mi). A afinação “standard” é a mais utilizada mas não é a única; no contexto erudito, várias músicas exigem a mudança de afinação de uma ou outra corda a fim de facilitar ou mesmo viabilizar a sua execução.
Não precisamos ir muito longe para observar esse fenômeno, aqui em Goiás temos a cultura dos violeiros que utilizam a viola de dez cordas (viola caipira) em várias afinações diferentes e que levam curiosos nomes; Cebolão, Rio Acima, Paulistinha, entre outras. A “Dropagem” consiste em afinar a última corda da guitarra (Mi grave) um (1) tom abaixo, ficando nesse caso afinado em D( Ré). Se afinação de todas as cordas já estiver mais grave, seguindo o padrão “standard” dos ciclos das quintas, basta afinar a última corda na nota referente ao quarto grau da penúltima corda, por exemplo: se todas as cordas forem afinadas um (1) tom abaixo, a última corda (a mais grave) deverá ser afinada 2(dois) tons abaixo; ao invés de E(Mi),B(Si),G(Sol),D(Ré),A(Lá),E(Mi) , seria D(Ré), B(Si),G(Sol),D(Ré),A(Lá),E(Mi) e assim por diante.
Essa forma de se afinar a guitarra encontra seguidores em sua maioria em bandas de New Metal e Hardcore. A afinação “dropada” permite que se faça o “powerchord” , que é apenas um acorde hibrido (segundo definição do genial Almirm Chediak, pois não há a definição de terças na formação do acorde) sendo formado pela nota tônica mais o quinto grau, usando apenas um (1) dedo para executa-lo. É claro que esse recurso fica restrito apenas às duas últimas cordas graves, sendo que nas demais persistirá o sistema tradicional de se montar os acordes.
A grande vantagem que existe na “dropagem” é facilitar mudanças rápidas de “powerchord”, que é uma característica comum do New Metal e do Hardcore, o que não impede que seja usado em outros estilos. Também é muito confortável para guitarristas que se movimentam muito no palco, pois diminui a chance de se tocar o acorde errado, ou mesmo mal executado, causando aquele som desagradável de acorde “mascado”. Essa facilidade permite criar e executar riffs de guitarra mais elaborados e rápidos, ressaltando novamente a restrição à apenas duas cordas. Porém, o músico deve estar atento quando for utilizar as demais cordas, pois ao se construir algum acorde usando os bordões, as notas sairão erradas se a posição não for adaptada à nova afinação. Pra falar a verdade, fica mais complicado montar acordes com o “shape” tradicional dessa forma, mas nas cinco cordas mais agudas o velho sistema prevalece.
Acredito que músicos que criam solos baseados em desenhos pré-definidos de escalas podem perder um pouco o referencial, principalmente se os desenhos começam na sexta corda (a mais grave). Se você utiliza os modos gregos – jônico, dórico, frígio, lídio, mixolídio, eólio e lócrio – convém não utilizar a última corda sem estar com a atenção redobrada. Uma solução seria adquirir uma guitarra de 7(sete) cordas, assim, pode se “dropar” a sétima corda e manter as restantes na afinação “standard”, assim você terá um instrumento com capacidade de execução de acordes bem graves, mas com o restante do instrumento afinado à moda antiga.
Se o “drop” é uma moda? Talvez. Já houve o tempo em que todos os guitarristas gostariam de ter um instrumento com ponte Floyd Rose flutuante e com microafinação. Hoje, as guitarras de ponte fixa tem tido a preferência. Bandas que trilham o caminho do metal mais agressivo têm o habito de afinar seus instrumentos em tons mais baixos. Tendências, afinal. Acredito que toda a técnica que um músico puder aprender lhe será proveitoso em algum momento. Você pode até não gostar dos estilos em que instrumentos “dropados” são usualmente utilizados, mas vale a pena pegar a sua guitarrinha e experimentar essa afinação, quem sabe descobrir novos horizontes.
*André Wilker é músico, guitarrista.
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