O "príncipe das trevas" lançou novo CD e deixou uma pergunta no ar: seria isso um retorno ou um adeus?
por Mario Megatallica
Ozzy Osbourne dispensa apresentação. Até quem não ouve heavy metal conhece esse cara e ele mesmo se define como "entertainer", uma pessoa que leva diversão para a multidão de diversas formas. E talvez seja por isso que Ozzy levou dez anos para lançar um novo CD de músicas inéditas; boa parte dos últimos dez anos da vida dele foram ocupados por compromissos com o Black Sabbath e programas de rádio e TV. A missão com o Black Sabbath foi encerrada dignamente, com direito a CD de despedida, turnê mundial e gravação de DVD no último show da banda na cidade natal deles, Birmingham. E depois da aposentadoria do Black Sabbath, o que viria? Ozzy reativou a carreira solo dele e passou a marcar shows pelos EUA, mesmo sem ter material inédito para apresentar aos fãs. Inesperadamente Ozzy desmarcou shows e cancelou turnês (uma delas com o Judas Priest, bastante aguardada pelo público) e vieram à tona notícias sobre o péssimo estado de saúde do nosso querido vocalista; sim, o cara estava realmente mal e teve que parar tudo para se cuidar. E quando todos esperavam notícias sobre a remarcação dos shows cancelados, surgiu uma música nova! Do nada. Isso foi no final de 2019, quando finalmente Ozzy anunciou que lançaria um novo CD de músicas inéditas. E a promessa foi cumprida: Ordinary Man foi lançado em fevereiro de 2020.
O lançamento de Ordinary Man foi uma ótima notícia, mas infelizmente veio acompanhado de outra notícia - essa, por sua vez, péssima. Ozzy revelou ao mundo, na véspera do lançamento de Ordinary Man, que sofre de Mal de Parkinson e, aos 72 anos, depende de cuidados intensivos para manter a rotina dele. Quem é fã dele (assim como eu), teve que engolir uma ótima e uma péssima notícia quase simultaneamente. Afinal de contas, deveríamos festejar ou lamentar? Certamente foi um momento de reflexão para todos.
Ordinary Man tem onze faixas, sendo uma delas bônus (Post Malone com participação de Ozzy) e, ao contrário do que os fãs esperavam, não tem uma nota sequer executada pelo guitarrista Zakk Wylde, com quem Ozzy viveu o auge da carreira dele. Na verdade o álbum foi composto e gravado por um time de músicos, do qual faziam parte nomes como Slash,Duff McKaggan, Chad Smith, Tom Morello e muitas outras celebridades do mundo do Rock. O material foi produzido por um cara novo, porém experiente, da nova geração de produtores do mainstream americano - Andrew Watt, que já trabalhou para nomes conhecidos da música pop mundial. Coincidência ou não, o material, como um todo, é bem mais leve que de praxe na carreira de Ozzy e as faixas mais lentas soam melhor do que as pesadas; a faixa "Ordinary Man", que nomeia o CD e tem participação de Elton John, é uma balada e uma das melhores músicas do álbum (creio que seja a melhor de todas).
De modo geral, o álbum Ordinary Man é melancólico, com várias faixas de andamento moderado ou lento, sem peso, sem virtuosismo instrumental, e mesmo as faixas mais "pesadas" não lembram nem um pouco do velho e bom estilo de Ozzy, com guitarras pesadas, cheio de riffs e solos de tirar o fôlego de quem ouve... o máximo que temos nas faixas pesadas são pequenas amostras dos elementos do passado misturados com uma pequena (bem pequena) dose de Black Sabbath. Se levarmos em conta o prazo que ele teve para compor e trabalhar nas novas faixas (o álbum anterior, Scream, é de 2010), é quase impossível não se decepcionar com o resultado final do álbum.
Afinal de contas, Ordinary Man é resultado de fatores musicais ou fatores físicos? O fato é: tudo isso (problemas de saúde + produção "pop") levou os fãs de Ozzy a acreditar que esse pode ser o último CD de estúdio dele. Talvez o bom e velho Ozzy Osbourne não tenha mais condições de extrair de si mesmo o melhor; talvez nem haja mais o que entregar para os fãs. Quem sabe? Difícil exigir uma resposta convincente de uma pessoa de 72 anos com Mal de Parkinson que sobreviveu ao estilo de vida "sexo, drogas e rock ´n´ roll" e que deu 100% de si para os fãs durante boa parte da vida. Mas será que Ordinary Man será mesmo o ponto final da carreira de Ozzy? Será que ele ainda tem energia para lançar mais músicas com a mesma intensidade de sempre? Perguntas que só o tempo poderá responder... Enquanto a resposta não vem, podemos ouvir Ordinary Man com a sensação de que tem algo faltando nesse som e com um certo saudosismo no ar.
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