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Opinião: o álbum Lulu

Quando eu soube da notícia, no início de 2011, que o Metallica entraria em estúdio esse ano para gravar novas músicas, eu fiquei bastante surpreso, afinal, quem conhece a banda sabe que eles lançam álbuns a cada cinco anos. Tem sido assim desde o Black Album. E como o último deles, o Death Magnetic, foi lançado em 2008, pensei que esse adiantamento deveria ocorrer pela empolgação de registrar um provável material novo gerado durante a Magnetic Tour. Que engano!

Capa de Lulu (2011).
Os meses foram passando e a notícia se confirmou - em parte. Para surpresa dos fãs, o que se confirmou foi uma parceria com Lou Reed para, juntos, gravarem um álbum. Logo, o que se viu pela imprensa foi a confirmação do então "projeto colaborativo" entre Metallica e Lou Reed. E eu pensando comigo mesmo: "poxa, isso não tem lógica".

A partir de setembro o tão esperado álbum de estúdio - ou "projeto colaborativo" - de Lou Reed com o Metallica ganhou data de lançamento (31 de outubro) e alguns trechos de músicas "vazaram" na internet. As amostras realmente me deixaram preocupado...

Hoje, após conferir o álbum - chamado Lulu -  integralmente no site oficial do "projeto colaborativo", posso concluir: essa parceria foi uma decisão equivocada. Não por parte do Lou Reed - mas sim do Metallica. Por quê? Porque o resultado final foi frustante. Ousado com certeza! Porém, frustante.

A mistura, apesar de autêntica, não agradou. O estilo das músicas não lembra o som de nenhuma das partes envolvidas; realmente houve uma mistura de estilos que culminou na criação de algo original - e isso é bom! Prova de que ambos ainda possuem criatividade suficiente para fazer material autêntico mesmo depois de décadas de carreira ininterrupta. A fator intrigante, no entanto, é que não há identidade nas músicas, já que o Metallica não faz esse tipo de som - e Lou Reed muito menos.

A impressão que tenho sobre esse álbum é que o senhor Lou Reed, após seguir durante vários anos no Rock, resolveu fazer um tipo de som diferente de tudo que já havia feito até então. Contudo, não possuía "condições técnicas" para isso. E o que seria isso, esse som diferente? Seria o tipo de som que o Metallica faz desde que surgiu: um Rock pesado, rápido, eletrizante, com vocais agressivos. Você consegue imaginar Lou Reed fazendo tudo isso sozinho? Eu não. O Metallica, para mim, apenas foi uma "banda de apoio" para a "viagem sonora" de Lou Reed, já que este não possui condições técnicas de tocar e cantar como o Metallica.


Pense também na seguinte possibilidade: imagine como o público de Rock receberia a notícia de uma parceria entre sua banda e o Metallica? É claro que a expectativa, as especulações, a publicidade, e todos os benefícios diretos e indiretos que surgem de uma parceria com uma banda com o Metallica são levados em conta para firmar uma parceria desse tipo.

Se Lou Reed desejava ter é publicidade e espaço na mídia, ele conseguiu o que queria. Mas se ele desejava lançar um álbum memorável, acredite: ele passou longe de alcançar este objetivo. Se Lou Reed desejava ganhar dinheiro com este álbum, seria melhor nem ter lançado. A prova disso são as vendas do álbum Lulu: na primeira semana de vendas, 13 mil cópias, e na segunda, 3 mil. E continuam despencando... 

O motivo para o fraco desempenho de vendas do Lulu é óbvio. São dez músicas longas (sendo uma com onze minutos e outra com dezenove), repetitivas, cansativas, que mais parecem a trilha sonora de uma peça teatral (ou algo semelhante), com o vocal deprimente de Lou Reed declamando as letras como se fossem versos de um poema - sem nenhuma melodia. Aliás, Lou Reed parece ignorar a tonalidade das músicas em que canta! Ele não afina em nenhum momento. Apenas se mantém falando, em tom baixo, melancólico. Paralelo a isso, o instrumental do Metallica segue com um pouco do peso e da agressividade de seu estilo. As bases são compostas de power chords e pequenos e repetitivos riffs (diga-se de passagem, da "escola sabbathiana") com a bateria mantendo uma levada lenta em boa parte das músicas. O vocal de James, quando aparece, é para provavelmente fazer o que Lou Reed não é capaz: produzir linhas vocais "rasgadas", contrastando com as frases proferidas pelo mentor da parceria.

No fim da audição, a impressão que tive é que Lulu não é um álbum de músicas, mas sim, a trilha sonora para alguma peça teatral, e que não representa o estilo de nenhum dos envolvidos nesse "projeto colaborativo". Parece até o registro de um momento de loucura num ensaio entre Lou Reed e Metallica... Talvez seja uma aberração musical, ou um álbum incompreendido, ou mais uma jogada de marketing... enfim, para mim não importa porque não pretendo escutá-lo novamente além das duas audições que fiz para escrever essa resenha.

O que resta agora? Esperar 2013 chegar para conferir o novo álbum do Metallica. De preferência sem participações especiais.


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