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Luis Maldonalle tocando o terror na literatura

O guitarrista Luis Maldonalle tem mudado gradativamente seu foco artístico dos palcos para as livrarias e 2015 tem trazido grandes novidades para sua carreira. Nesta entrevista ele fala sobre como tem sido a recepção do público aos seus lançamentos literários, conta qual seria a trilha sonora ideal para a leitura de seus contos de terror e revela de forma exclusiva ao blog Audio e Rock ´n´ Roll quais são seus próximos planos.

por Mário Megatallica


Maldonalle, ainda é algo surpreendente para algumas pessoas o fato de você ter migrado seu foco artístico da guitarra, ou seja, da música, para a literatura. Conte pra nós: como a literatura passou a dominar suas atividades? O que te levou a priorizar a literatura a partir de 2014?

Na verdade, eu já tinha isto em mente, apenas não sabia ao certo quando aconteceria. As ideias foram tomando forma e eu experimentei dar vida a esse processo. Antes de mais nada, é bom que se diga que eu venho de uma infância e adolescência calcada em leitura ( HQs e livros de ficção), sendo assim, ao menos para mim, não há tanta surpresa. A literatura é apenas outro meio artístico. No final das contas, tudo é arte, muda apenas a maneira como nos expressamos.


Seus amigos e seguidores sabem que você não abandonou a música e ainda continua tocando em bandas - inclusive fez um show com a Bella Utopia recentemente em Goiânia. Você faz algum tipo de planejamento para que as suas atividades musicais não atrapalhem as atividades literárias? Já aconteceu de ter que cancelar algum compromisso devido a conflito de agendas?

Não. E nem acho que isto vá acontecer. É tudo muito recente ainda. E acredito que dificilmente datas ou compromissos serão empecilho de alguma forma. Tenho achado natural o equilíbrio das funções. Na verdade, a literatura tem me tomado mais tempo do que a música. Algo que eu penso ser normal, dado a minha larga carreira musical.


Luis Maldonalle ao vivo com a banda Bella Utopia


A sua experiência na música trouxe alguma influência para as suas obras literárias?

Eu penso que escrever é observar. Uma boa história é contada através de detalhes e características, e isto pode ser feito claramente através de um processo de observação. A música é um catalisador natural (emoções, contextualizações sociais e comportamentais), gosto de imaginar que a ficção pode ser como uma letra de música em sua estrutura, algo diferente de uma prosa habitual. A bagagem musical, para mim, ajuda e muito a ambientar e definir e dissertar sobre cenas e passagens. Há, sem dúvida, uma maneira musical de se enxergar todo o processo. No Coração da Melodia, a história que abre o livro Sete Noites em Claro, é um exemplo disso. Shane, o personagem central, é um artista de jazz e o decorrer da trama permeia um grande desfile de situações musicais atrelados ao jazz, fazendo com que o leitor, mesmo quem não seja muito acostumado aos nomes e todo o conceito jazzístico, se sinta à vontade.


Em dezembro de 2014 você lançou seu primeiro livro, "7 Noites Em Claro", e em junho de 2015 já foi lançado o segundo, "A Hora da Tormenta". Dois livros em seis meses! Explique pra nós o que te levou a encurtar o período de lançamento entre as suas duas obras literárias.

Durante o processo de finalização do livro Sete Noites (a parte burocrática), eu escrevi um outro bom número de material (tenho mais três livros prontos) e assim que o livro saiu coincidiu a oportunidade de efetivar a parceria com a editora Autografia, e eu acabei achando propício o livro sair assim, em um curto período de tempo, especialmente se tratando de um novo autor. Acho que é definitivamente a prova de que tenho feito isso com muito comprometimento e seriedade.


Mesmo com o segundo livro disponível para venda, você acha que ainda é possível trabalhar a divulgação do primeiro? Qual dos dois você indica para o leitor que ainda não te conhece?

Como sou um autor iniciante, e estou à margem de coisas como um selo/editora ou algo próximo de um norte editorial sólido, eu acabo sendo o responsável por tudo que faço. Editor, marketing, e todas as outras funções embutidas no afã de ser um autor. Diferentemente do que as pessoas podem achar, um livro leva tempo pra ser aceito - quando é. Tampouco, ele caminha sem que você o folheie ou ande de mãos dadas como um recém-nascido. Acho que faz parte de todo o processo. Muito do seu alcance, a exposição na Amazon e as grandes resenhas que ainda continuam a chegar, é resultado deste comprometimento e carinho com a obra. Eu provavelmente diria que o livro Sete Noites em Claro seria um bom começo, as histórias são curtas (eu nunca as tratei como contos) e o leitor pode decidir se gosta ou não do tipo de narrativa, além do mais quando ele chegar no A Hora da Tormenta, veria o quanto de desenvolvimento e amadurecimento aconteceu entre os trabalhos. O que eu acho que inquestionavelmente aconteceu.


Qual a importância, tanto para você quanto para seu público-alvo, de ter o seu novo livro, "A Hora da Tormenta", lançado no formato físico, mais tradicional?

Vivemos em uma época em que muito do que éramos habituados mudou. Vinil, telefone, jogos, música e os livros. O mercado de livros digitais vem crescendo. Eu mesmo sou entusiasta da plataforma, grande parte do que tenho lido já é no formato digital, mas reconheço o quanto o livro físico pode nos provocar. Foi uma grande vitória e um passo enorme ter um livro publicado de forma física, você nota isso com as pessoas. Em redes sociais e no trabalho de parcerias com blogs e veículos, eu sou sempre perguntado se tenho o livro de forma física (mesmo que alguns deles, os menos sérios, se interesse apenas pelo produto e não seu conteúdo). Na verdade, eu venho trabalhando com o intuito de que as obras, independente dos formatos, cheguem ao maior número de leitores possível. Mas faço questão de ter o livro físico como carro-chefe. Mesmo que isso ainda não seja uma realidade.


Destaque pra nós quais são as diferenças principais entre as suas duas obras literárias e diga como está sendo a recepção delas por parte do público e da crítica especializada.

Bom, o Sete Noites é um livro dividido em histórias. A trama desenvolve o suficiente, principalmente por não se tratar de um romance. Os temas são variados dentro do gênero, basicamente o elemento sobrenatural permeia todo o livro. O que não acontece em A Hora da Tormenta, já que o o próprio homem é o elemento central da trama com conflitos e comportamentos, apesar do tornado figurar em primeiro plano. Penso eu que a narrativa, o tipo de voz com que eu trabalho, continua lá mas é como se o tempo tivesse lapidado e encontrado formas diferentes de dizer, às vezes, os mesmos termos. Em um romance, a possibilidade de se estender e trazer a profundidade exata para cada personagem facilita o trabalho já que eu me dou bem em textos longos. Dito isto, eu penso que o primeiro livro foi um acerto por ter sido elaborado com histórias divididas. Quanto a recepção, tem sido realmente muito gratificante. Especialmente nesse período de transição, quando eu apresentei um primeiro livro. Com o recém - lançamento do A Hora da Tormenta as resenhas estão chegando e mais uma vez os resultados tem sido muito positivos. Algumas beiram ao incrível. Provavelmente, se eu dependesse de resenhas, eu diria que a coisa estaria em uma outra proporção.


Você pretende permanecer escrevendo obras de suspense e terror ou acha que é possível haver uma mudança de estilo no futuro?

Eu penso que um autor tem que ser verdadeiro. Meu lance são as histórias. Se eu fosse ser colocado em uma estante, ela certamente seria a do terror e suspense, mas isto não quer dizer que não há aventura, drama e uma acidez irônica no que escrevo. Estou mais preocupado com a profundidade dos personagens e seus perfis psicológicos do que com todo o resto. Eu acredito na história. E a única maneira de chegar até as pessoas com o máximo de sinceridade e comprometimento é através do tipo de voz e prosa que eu interiorizei por mais de trinta anos, lendo e relendo coisas do gênero. Infelizmente algumas pessoas ainda tratam o gênero como algo proscrito, mas esquecem do que lhes é esfregado à face todos os dias em parágrafos impressos em tinta barata nos jornais de esquina. Pra mim, isso parece bem pior que uma boa ficção detalhada até o osso. É como na música, não interessa o estilo, uma boa canção, vai ser sempre uma boa canção. Mesmo que alguém menos interessado sempre torça o nariz.


Na sua opinião, qual seria a trilha sonora ideal para acompanhar a leitura dos seus livros? 

O ideal, já que tramas e situações aparecem em diversas formas, seria compor algo direcionado, ambientando cada passagem como em um longa. Em se tratando de histórias, situações, simbolismos e psiques humanas, o Slayer poderia soar tão calmo quanto a filarmônica de Berlim, assim como o piano de Oscar Peterson poderia ter as teclas cobertas de sangue, contraponto após contraponto. Stevie Wonder arregalaria os olhos em uma performance alucinada de Supersticious, não antes que Tony Iommi liderasse uma legião de riffs tensos como um ritual, até que a turma da Bay Area (Thrash Metal), finalmente não deixasse tijolo sobre tijolo. Algo por aí, quem sabe? (Risadas)


E para finalizar: o que vem por aí? 

Tenho trabalhado arduamente em um romance intitulado War Kids – Garotos Descartáveis e vou lançar um conto na Amazon em agosto. Existe a possibilidade de mais algum trabalho até o fim do ano, mas isso ainda depende de uma série de coisas. Mas o próximo ano deve ser intenso com produções e lançamentos. Talvez essa seja uma vantagem do autor independente, é possível ter três, quatro ou mais trabalhos em um ano à disposição do público. Pode não ser rentável, ou não ter um alcance como qualquer autor gostaria, mas é gratificante acompanhar os títulos e obras crescendo cada vez mais. E com todo respeito a alguns best-sellers americanos repletos de formulas desgastadas afim de fisgar o leitor fácil, se eu tiver que fazer algo assim, eu me contento com meu anonimato e todo o resto que me cerca.




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