por Cristian Schiehl*
Todo mundo que trabalha com áudio deve conhecer os efeitos da falta de aterramento, afinal de contas, quem nunca levou um choque em uma mesa de som ou microfone? Saiba que estes pequenos choques são um indício de que há algo errado com o equipamento ou sua instalação, comprometendo o sistema de áudio e podendo colocar a sua vida em risco.
Falhas no sistema de aterramento (ou sua completa ausência) já foram responsáveis por diversos acidentes em shows de grande porte e ainda representam um perigo para músicos, técnicos e público.
A função principal de um aterramento em um sistema de áudio é formar um caminho livre para a descarga de elétrons acumulados, curto-circuitados ou descaregados junto a carcaça ou meio comum condutor no circuto. Na falta deste caminho para a terra, o usuário do sistema se tornará o condutor destes elétrons, gerando assim inevitáveis choques elétricos, os quais em um sistema amplo ou com defeito podem gerar danos sérios a saúde.
Outro grande problema causado pela falta de aterramento são os indesejáveis ruídos nos equipamentos de áudio, gerados pela presença destes eletrons livres junto a carcaça do equipamento. Problema este que acaba sendo maximizado em equipamentos não balanceados, nos quais o negativo e o terra (carcaça do equipamento) estão ligados por meio comum, disponibilizando estes eletrons livres em todo sistema de áudio.
Certa vez tive a infeliz oportunidade de sentir na pele os efeitos da falta de aterramento quando iniciava a manutenção de um amplificador de áudio de um cliente que faz parte de uma igreja (deste então nunca mais cheguei perto de um equipamento não aterrado). Ao que tudo indica, ele, ao fazer a instalação ou transporte do equipamento, puxou o cabo de AC da fonte, fazendo com que este se rompesse junto à conexão da placa, o qual acabou encostando na carcaça do equipamento. Ao conectar o equipamento na rede de elétrica para as primeiras verificações constatei que o mesmo não apresentou sinal de vida; foi então que ao desconectar o equipamento da tomada acabei me encostando na carcaça do amplificador e ali fiquei “grudado” por alguns instantes. Felizmente eu estava com calçado de borracha que me fornecia isolamento e ligado à terra apenas por meu braço, que estava encostando na parede, tornando menores as proporções do acidente. Quando a carcaça do equipamento entrou em contado com a fase da rede elétrica nada de anormal ocorreu, tornando-a apenas uma sequência da rede, o que representa um perigo aos usuários. Poderia ter sido diferente se o equipamento estivesse aterrado, já que a fase entraria em contato com o terra, fazendo com que a rede sofresse uma sobrecarga que queimaria o fusível do amplificador ou desarmaria do disjuntor da rede.
Imagine agora as proporções de um curto-cirtuito desse porte na igreja onde o amplificador se encontrava instalado (a igreja não tem aterramento!!), tendo em vista que o mesmo era ligado junto a quatro amplificadores em um sistema de áudio completo, com mais catorze microfones, vários instrumentos, computadores, efeitos e mixers digitais, etc... O efeito seria uma descarga elétrica contínua da rede sobre todos os usuários do sistema (existe um momento do culto em que todos os fiéis dão as mãos).
Quanto aos métodos de instalação de um aterramento, convém ressaltar que é importante o auxílio de um profissional especializado, que calculará a potência do sistema, analizará o solo, etc...
Uma dúvida frequente dos “técnicos em áudio” refere-se à quantidade de hastes a serem fixadas no solo. Inicialmente indica-se que seja no mínimo duas hastes interligadas, com distância igual ao comprimento de cada uma, e o fio utilizado junto à ligação do aterramento deve ter no mínimo a expessura do utilizado na rede elétrica.
Atenção com seu sistema de aterramento, ele pode salvar sua vida.
*Cristian Schiehl é técnico em Eletrônica e responsável pelo departamento de Assistência Técnica da rede Fujisom.
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