A ausência da propriedade de um site oficial praticamente obriga bandas iniciantes a adotarem páginas de redes sociais como um local estratégico para divulgar músicas, informações e manter contato com fãs. Mas será que as redes sociais são o melhor local para concentrar todas as atividades e fidelizar a base de fãs de uma banda?
por Mário Megatallica
Num belo dia você resolve montar uma banda. Convida seus melhores amigos para fazer parte dela. Cria um repertório com as músicas das bandas que você e seus amigos mais curtem e marcam o primeiro ensaio. Depois de vários ensaios resolvem fazer uma apresentação na festa de aniversário de um dos seus familiares. E na sequência sua banda é convidada para tocar no festival de música do seu colégio. Vários meses se passam e a sua banda resolve compor a primeira música autoral de sua história - e para celebrar esse momento vocês resolvem gravar esta música num estúdio profissional com o patrocínio de suas famílias... E assim sua banda vai construindo uma história.
Atualmente cada passo dessa trajetória é devidamente registrada com fotos, textos e vídeos postados em redes sociais e programas específicos para celulares. Não basta existir; você sente a necessidade de dividir os seus momentos com várias pessoas. E isso torna-se mais importante ainda se você deseja sobreviver no mercado musical.
No inícios dos anos 2000, quando o ICQ e o Microsoft Messenger (MSN) eram as maiores ferramentas de comunicação via internet, a música mostrou sua importância para a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo - e para a internet, consequentemente - através do uso de tecnologias como o Napster, o Kazaa, o Limewire, o Emule, etc, e também através da rápida popularização do Myspace, a primeira grande rede social da internet. Muitas bandas criaram perfis e mostraram seu som para o mundo todo utilizando uma simples página do Myspace... e como essas páginas eram úteis e divertidas! Ali você ouvia muita música (via streaming), recebia informações sobre as bandas que você curtia e ainda conhecia pessoas de todo lugar do planeta.
As redes sociais continuam sendo um bom meio para alcançar novos fãs |
Muitas bandas investiram pesado no Myspace. Gastaram bastante tempo (e provavelmente dinheiro) para melhorar o visual de suas páginas, atualizar suas informações e manter uma relação "mais próxima" com fãs de todos os lugares. Até que veio o início da segunda década do século XXI e o mundo viu, de forma assombrada, o surgimento de uma nova potência chamada Facebook. E o que aconteceu depois que Mark Zuckerberg concentrou seus esforços para ampliar o alcance do seu Facebook? Simplesmente todo mundo abandonou as suas redes sociais preferidas - e todo mundo entrou no Facebook.
A partir de 2010 as bandas que estavam no Myspace e lá investiram boa parte dos seus esforços para levar sua música cada vez mais longe perceberam que aquele lugar ainda continuava cheio de usuários - porém, com perfis desatualizados ou praticamente abandonados. O Myspace possuía uma ferramenta que mostrava a data da última visita de cada usuário; e observar essas datas se tornou algo angustiante... Foi necessário então encarar a nova realidade: como trazer de volta os fãs que faziam parte da sua base de relacionamentos?
O estrago estava feito e os mais espertos perceberam que não seria possível trazer de volta quem abandonou o Myspace. As bandas não tiveram outra opção senão ir atrás dos fãs, tentando recuperar pelo menos uma parte deles para que a audiência de suas músicas continuasse alta; e assim o fluxo se inverteu juntamente com a lógica. A solução parecia óbvia: os fãs foram para o Facebook? Então vamos atrás deles! E as bandas criaram seus perfis nessa rede social, tentando se acostumar com a nova casa sem demonstrar nenhuma apreensão ou dificuldade.
Cria-se a conta no Facebook. E agora, está tudo OK? Não mesmo... De repente descobre-se que uma parte dos fãs está no Twitter. E outra no Google+. E outra parte dos fãs só escuta música no Youtube. Um pequeno grupo poderia também estar no Tumblr. Parece que agora ficou complicado conseguir atingir todos os seus antigos fãs de uma só vez e no mesmo lugar não é? Pois como se não fosse suficiente, surgem os "smartphones" com seus aplicativos de comunicação instantânea e streaming de audio e programas como Whatsapp, Instagram, Snapchat, Spotify, Deezer, Shazam, entre tantos outros, passam a se tornar lugares bastante frequentados por pessoas do mundo todo.
E agora? É possível estar em todos os lugares ao mesmo tempo? É possível atingir todos os seus fãs ao mesmo tempo? Onde e como reencontrar aquele fã que uma certa vez, há alguns anos, postou na sua página uma mensagem dizendo que tinha acabado de conhecer a sua música e que não conseguia mais viver sem ela? Como e onde achar aquela fã que comprou o seu CD e tinha convencido uma amiga dela a fazer o mesmo? A resposta é simples, direta e bem fria: é quase impossível você reencontrar este fã se você não ofereceu a ele a possibilidade de receber suas novidades por email. Você se lembrou de fazer isso, de dar a ele esta opção?
Esta história de perda do Myspace foi simbólica e até hoje representa um aprendizado muito grande, principalmente para as bandas que sobreviveram àquela tragédia. A lição que ficou é que não é possível fidelizar uma base de fãs somente usando uma rede social, pelo simples fato de que redes sociais são como tendências: surgem do nada, crescem e um dia morrem do nada. E assim novas redes sociais surgem e outras morrem, o tempo todo... assim é o mundo virtual, assim é o mundo da tecnologia.
Eu mesmo vi isso tudo acontecer. E me tornei um desses usuários gratuitos de rede social, um músico que tenta estar em todos os lugares ao mesmo tempo, divulgando meu trabalho, disputando a atenção de algumas centenas de pessoas com outras bandas, com vídeos engraçados, com filosofia descartável, com "memes", com notícias jornalísticas, com propagandas de todo tipo, enfim, com tudo que pode interessar a uma pessoa ao longo do dia. Na data em que escrevi este texto eu tentava manter atualizadas minhas páginas no Facebook, Google+, Twitter, MUUS, Komunumo, Reverbnation, Youtube, Myspace (sim, ele está vivo!), Flickr, Soundcloud, Purevolume e N1 Music. Detalhe: fazia tudo sozinho. E obviamente não conseguia atualizar todas elas pois isso é quase impossível para uma pessoa só!
Eu percebi que disputar espaço com outras bandas e empresas na linha do tempo dos meus seguidores seria uma tarefa complicada; aliás, isto me custou algum dinheiro! Sim, porque algumas redes sociais "filtram" o que seus usuários podem ver e te pedem dinheiro para "impulsionar sua publicação"... A solução que eu encontrei para tentar diminuir a minha dependência em relação a essas redes foi criar meu site oficial.
Além de ter sido muito legal viver a experiência de comprar um domínio próprio e um plano de hospedagem para o meu site, foi muito importante para mim saber que passei a possuir um local único e exclusivo para armazenar e expor tudo sobre o meu trabalho. Gastei tempo e dinheiro? Sim, mesmo porque os serviços gratuitos que encontrei possuíam muitas limitações. Mas valeu a pena! E qual foi a maior vantagem de abrir meu próprio site? Além de concentrar num só lugar todo meu conteúdo, ficou mais fácil também para qualquer pessoa interessada em conhecer meu trabalho me achar no Google; digite lá o meu nome e você verá que o meu site oficial aparece entre os primeiros resultados da pesquisa. Outro fato muito importante: no meu site eu disponho de uma ferramenta de inscrição de emails, o que quer dizer que qualquer pessoa pode optar por receber por email as minhas novidades; e cada email inscrito faz parte de uma lista da qual eu tenho uma cópia e que posso usar para contactar meus fãs diretamente, onde e quando eu desejar. Em tempos de redes sociais, meu amigo, isso vale muito!
Ter um site oficial não dispensa o uso da divulgação em redes sociais. Encare os dois como ferramentas complementares, já que uma completa a deficiência da outra. E se sua banda optar por criar um site oficial (parabéns pela sua decisão!), fique ciente que ele passará a ser o foco das suas ações de marketing já que ali está concentrado todo o conteúdo. Mantenha seu site sempre atualizado, divulgue sempre o link da sua página de música e da sua página de contato, além de (e principalmente) oferecer mimos exclusivos para os fãs inscritos na sua lista de email, afinal, esses com certeza te acompanharão sempre, onde quer que eles estejam.
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