Carlos Zema, vocalista brasileiro (ex-Heavens Guardian e Vougan) que vive há três anos em Austin - Texas, nos EUA, concedeu uma entrevista exclusiva para o A&RR, falando um pouco sobre o seu trabalho com "Metal" Mike Chlasciak (Halford, Sebastian Bach), que está preparando o lançamento de mais um álbum solo, sucessor de The Spilling (2001). Confira a entrevista logo abaixo:
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Carlos Zema |
Como você conheceu o Metal Mike?
Zema: Conhecí o Mike através de meu amigo Roy Z. Estávamos nós 3, discutindo sobre projetos paralelos e surgiu uma oportunidade de ser convidado pelo Mike, para participar de algumas idéias a serem trabalhadas no album. Mike me mostrou algumas de suas idéias no qual soaram bem na minha praia em se tratando de estilos, com uma pegada bem Metal e como me senti muito à vontade com o estilo, nem pensei duas vezes em aceitar o convite. Com o passar do tempo, nos tornamos amigos e desenvolvemos um ambiente bem familiar mesmo.
Quando resolveram começar a trabalhar juntos?
Zema: Estávamos na verdade com planos de trabalhar juntos desde muito tempo atrás, provavelmente 3 anos. Mas nunca tivemos a oportunidade. Em momentos quando eu me encontrei disponível, outra tour do Halford não nos possibilitou dar a continuidade ao projeto, quando Mike estava disponível em determinados momentos, outras coisas já haviam sido encaminhadas em minha carreira. Até quando chegou o momento certo de gravarmos juntos e ir em tour com nossos amigos do Primal Fear na costa leste dos Estados Unidos.
Como foi o processo de composição do álbum?
Zema: Basicamente, Mike obtinha as idéias de riffs, onde foram enviados à mim. Com os mesmo não foi muito difícil trabalhar, pois os mesmos foram praticamente reorganizados em estrofes, bridges, refrões e assim formamos os esqueletos das músicas, depois de um tempo Mike me mandou as versões com todas as baterias e a maior parte das guitarras gravadas. Com esse material iniciei a gravação das minhas linhas de vocais para a pré-produção, onde fomos reunir em New Jersey para a gravação definitiva de todas essas músicas.
Houve a necessidade de vocês se adaptarem em termos de estilo?
Zema: Em minha opinião não houve necessidade de adaptação. Meu estilo sempre foi bastante semelhante aos vocalistas que trabalharam com o Mike anteriormente, tanto os vocalistas mais agressivos, quanto os mais melódicos. Aproveitando-se da oportunidade explorei bastante todo esse espectro de possibilidades desenvolvi as linhas vocais de forma mais eclética.
Como foi o processo de gravação? Onde ela ocorreu e quem foi o produtor do álbum?
Zema: O próprio Mike produziu e direcionou a gravação do disco. Gravamos no House of Metal Studios, do próprio Mike, onde colocamos todos os vocais e guitarras praticamente juntos.
Você teve liberdade para compôr letras e melodias?
Zema: Sim, todas as letras e melodias foram compostas por mim.
Qual a diferença entre trabalhar com um produtor/músico brasileiro e um produtor/músico gringo?
Zema: Creio que eu não conseguiria descrever nenhuma diferença em se tratando de qualidade e/ou profissionalismo. Tanto quanto musicalmente, quanto se tratando de produção, assim como nos Estados Unidos, no Brasil existem muitos produtores e músicos excelentes. Creio que pelo fato dos músicos e produtores norte-americanos obterem uma facilidade de acesso a equipamentos, materiais de estudos e etc... de uma forma passiva, os profissionais da música internacional, em especial americana, possuem uma preocupação a menos quando encaram o cenário musical.
Você se sentiu em algum momento "pressionado" por estar trabalhando ao lado de um músico conhecido na cena metal mundial?
Zema: Em nenhum momento, encarei nenhuma de minhas oportunidades na carreira musical, como um momento de insegurança, mas sim, como uma chance de mostrar um trabalho de longo tempo de dedicação. Entendo que quando trabalhei com profissionais de nome na cena mundial, acabei me colocando em uma posição mais confortável, acho que pelo fato de não ter que me preocupar com o restante do time, foi extremamente importante para facilitar o meu desempenho como músico. Não me entenda mal, já trabalhei com diversos musicistas nos quais obtive grande resultados “musicais”. Mas chegar a um lugar onde toda a estrutura e profissionais envolvidos, já estão focados em uma mesma direção, é uma experiência totalmente diferente. É muito incerto e até mesmo perigoso, colocar-se em uma posição de aventureiro musical, apenas por amor à música, no qual é maravilhoso, não me entenda mal, mas colocar-se em uma posição profissional em relação à música, é uma história completamente diferente. Muitos músicos desistem porque não conseguem manter o trabalho árduo, dor-de-cabeça, desavenças, integridade musical, negociação com gravadoras, etc... ou até mesmo a mesma dedicação durante os anos. Trabalhar inserido dentro de uma atmosfera musical profissional é o tipo de conforto no qual, em minha opinião, todo musicista necessita ser enquadrado. Uma posição profissional onde a única preocupação seria com a música em si.
O que você e Metal Mike esperam deste álbum? Quando ele deve ser lançado?
Zema: Esperamos que esse seja um bem sucedido capítulo da História do Heavy Metal contemporâneo. Se é que eu posso chamar esse disco de moderno. O disco tem uma pegada bem tradicional e orgânica, algo que em minha opinião está de certa forma, um pouco perdida nos dias de hoje nos discos atuais de Metal em geral. Ainda não temos previsão para o lançamento deste álbum, pois devido à produções finais do disco, reagendamento de algumas participações especiais, foi necessário adiar esse lançamento.
Qual é a faixa que mais se destaca na sua opinião?
Zema: A minha faixa favorita é "The Cross". Se trata de uma composição bem agressiva e direta. Essa foi uma ideia muito legal que o Mike compôs inicialmente e se tornou um monstro quando finalizamos a estruturação da mesma.
Conte alguma curiosidade ou cena engraçada de bastidor da gravação.
Zema: (Risos) Com certeza tivemos várias, especialmente na tour com a banda onde estávamos eu, John Macaluso, Metal Mike e Clint Arent dentro do mesmo recinto. Impossível de não acontecer a cena mais hilária da história. Mas vou deixar aqui um depoimento como testemunha do ocorrido... Estávamos tocamos em um lugar muito porrada em uma cidade chamada Clifton em New Jersey, quando contamos com a presença da imprensa local, filmamos ao vivo no lugar para um reality show de rock da TV local americana. Tivemos a oportunidade de ter uma excelente luz, sistema de PAs perfeito, excelente acústica e etc... Johnny Mac teve a idéia de gravar a bateria com sua própria câmera, mas quando passamos em um posto de conveniência para comprarmos o tripé de suporte da câmera, John se esqueceu de conferir se o encaixe era o mesmo. Chegando ao local, a câmera não se encaixava em cima do tripé, portanto tivemos a brilhante idéia de grudarmos a mesma com fita adesiva em cima do tripé que, por sua vez, se localizava em cima da mesa de som frontal(dos PAs). Tocamos o show inteiro e a primeira coisa que John fez foi se dirigir à câmera com seu fone de ouvido para conferir os takes de bateria mais importantes de sua vida, pois segundo ele, “finalmente eu consegui umas filmagens decentes de bateria”... Logo alguns minutos depois, ele me diz: “Zema, estou muito grilado! Muito mesmo!” – logo perguntei: porquê? – “Filmei horas... horas e horas de EXIT sign! (Placa luminosa de saída). Por alguma razão alguém moveu a câmera de lugar e a mesma filmou o show inteiro apontando para a porta da saída! (Risos) Eu estive lá para presenciar a insatisfação de nosso companheiro! Mas que foi engraçado foi!
Existe alguma possibilidade de vocês se apresentarem no Brasil?
Zema: Ainda não. Sem nenhum plano no momento.
Deixe uma mensagem pessoal para seus fãs aqui no Brasil!
Zema: Queria agradecer muito a você, Mário! E todos os nossos amigos e fãs, aonde quer que vocês estejam, muito obrigado pelo grande incentivo! Obrigado pelas mensagens de encorajamento e depoimentos pessoais. Eu amo muito o Brasil e quero muito ainda voltar a fazer uma tour nacional. Tomara que esse sonho se concretize em breve. Estou trabalhando muito pesado aqui e já há muito tempo e nunca me esqueço do Brasil! Amo muito vocês! Uma vez brasileiro, sempre brasileiro! Saudades! Tudo de bom à todos que lêem essa matéria e que fazem da música um estilo de vida.
Em breve, você poderá ter mais detalhes (nome, arte e tracklist) do novo álbum do Metal Mike com Carlos Zema aqui, no A&RR.